Respiração

Com riqueza imagética, sensibilidade e um certo ecletismo, Rodolfo Miguel Begonha transporta para a criação poética sensações que frequentemente unem elementos exteriores, que podem ser lugares ou paisagens, a dimensões profundamente humanas. Realidades intrínsecas e/ ou imaginárias mesclam-se com outras passíveis de assumir existência física. A relação com a natureza marca a vida do autor e reflecte-se na sua escrita, em especial na poesia. Se no caminho deste livro a natureza é um importante pano de fundo, em sintonia descortina-se também uma tendência nostálgica, que por vezes leva a finais desconcertantes. Até mesmo nos poemas algo minimalistas e com expressão simples, pode afirmar-se que o autor não resiste a deixar mensagens que quase se assemelham a breves histórias, sem que isso desvirtue a estética ou a beleza das composições.

Em 2007, na altura da publicação de Elementos, primeiro livro de poesia de Rodolfo Miguel Begonha, terá sido porventura Eduardo Lourenço quem primeiro o designou como poeta, quando assinalou: «Deixar a natureza sonhar-se em nós é dom de poeta. É o seu.» Esta classificação foi então recebida pelo autor com alguma perplexidade, mas também constituiu um claro motivo de encorajamento. Após um longo período de escrita neste género literário, mas sem publicar, faz agora emergir Respiração, onde mostra um estilo diferente. O facto de morar actualmente numa freguesia lisboeta junto à margem do Tejo, não terá deixado de ser um relevante motivo inspirador.

Através da vivência intensa e da captação apurada de coisas e de seres, e também de pormenores, Rodolfo Miguel Begonha parece aqui ir ao encontro de uma certa respiração daquilo que o rodeia, até de uma entidade que transcende o ser humano. Será que esta intensidade, aplicada à escrita poética, não é, paradoxalmente, a forma de o autor nos revelar como «respira» o mundo, convidando-nos ao mesmo tempo a acompanhá-lo?

 

Autor: Rodolfo Miguel Begonha

Colecção: «On y va, Poesia»

Páginas: 100

 

(…)

respiro paisagens e luz

os meus poemas pingam

asfaltos de rios sonhados

cânticos de margens cúmplices