Ornitologia

O autor avisa logo a abrir o livro que «não é da mera acção de voar que se trata», ressalvando no entanto que «existe um início, um impulso que nos eleva». Ou seja, «as aves somos nós, seres alados em suspensão aérea», e «o poema é, nesse sentido, elevação da linguagem a uma condição superior de expressão, a própria vida».

Tudo isto começa a concretizar-se nas dedicatórias, duas, ditas a partir de um «ninho» que surge próximo do verso de Ruy Belo a alertar que «o puro pássaro é possível», embora saibamos, conhecendo o poema de que faz parte, que essa é uma possibilidade apenas de um «Portugal futuro». Aqui, no presente e começando por olhar o passado, Paulo Correia sugere a ideia de a vida ser só aqueles dois poemas, precisamente as dedicatórias. É nelas, nos seus versos arrebatadores, que verdadeiramente começa o «impulso» do livro.

 

Autor: Paulo Correia

Colecção: «On y va, Poesia»

Páginas: 56

 

nós aves de cinza

quase morremos

de sede

(…)